ATELIÊ

Apresentação – A Pintura e Escultura

O Bruto que Revela o Diamante

Ele cresceu com as vísceras em fogo, como se os deuses tivessem cavado um abrigo em sua pele. Desde a infância, carregava nos dedos a tensão febril de quem flerta com o abismo da criação. Não bastavam histórias escritas, nem fotogramas bem alinhados: sua sede pedia algo além do visível, uma centelha subterrânea que zunia nas telas e na matéria bruta. Ali, nas pinceladas e nas esculturas irregulares, colocava-se em confronto direto com as próprias sombras. Sua vocação agia como uma faca sem lâmina, deslizando na contramão das convenções, buscando o diamante oculto nas arestas mais rudes da realidade. À semelhança de um errante, ele se recusava a polir a superfície, preferindo enaltecer as falhas e rachaduras que marcam a epiderme do mundo. Quando arrastava pincéis sobre o suor da tela, era como se a noite inteira tremesse diante das cores que se acendiam num rubor caótico, lembrando os delírios de uma estrela decadente. E, nos blocos de argila ou metal, via-se a fúria de um caçador nômade desafiando o cosmos, moldando e sendo moldado pela dureza primordial das coisas. Nesse ritual, a imperfeição surgia como um altar sagrado onde o caos era rei, e o artista, um sacerdote áspero que oferecia sua própria angústia em sacrifício. Ecoava ali o pensamento , como se cada golpe de cinzel fosse uma afirmação irreverente da vontade de poder, da vida que insiste em brotar mesmo onde só se enxerga ruína. No cinema, suas lentes também miravam as fissuras da condição humana. Ele não disfarçava as rugas das histórias, não tapava os buracos do enredo com verniz polido. Preferia conduzir o público por becos desconexos, onde personagens sangram segredos e a verdade se curva como um animal ferido. Cada cena, então, convertia-se num vórtice de símbolos, uma fenda na carne do real por onde escapavam almas errantes. Assim como na pintura e na escultura, buscava a beleza torta daquela imperfeição que tudo revela. Talvez residisse aí a faísca de sua loucura criadora: uma recusa em ser domesticado pelas exigências do mundo, um mergulho destemido , “uma temporada no inferno,” onde os sentidos se esgotam e renascem à beira do impossível. Ele via a matéria bruta como um espelho dos homens, já que ambos contêm vísceras e arestas, luxúria e medo. Preferia exibi-los todos – o clarão e a lama –, pois sabia que a existência é menos um objeto de contemplação e mais uma fera indomável, pronta para estraçalhar convenções. Seu legado, por fim, canta os segredos de um diamante que se nega à lapidação, brilhando de forma áspera, sem adornos nem disfarces. Como um arauto das imperfeições humanas, permanece à margem, sussurrando ao vento: a arte é a confissão do caos, e só quem ousa abraçar as falhas encontra, de fato, a centelha que ilumina a noite do mundo.

VENDIDO

"Her" - 1,60x80cm

Multidão

VENDIDO

Tempo da Delicadeza

VENDIDO

Banho da Lucidez

VENDIDO

A busca

Verso Único

No útero do vento, ergue-se a casa sagrada, celulose e instinto, onde cada fibra respira um sonho antigo. Fora, a espuma se expande, um sopro industrial, fome que envolve e sufoca a matéria viva

– o altar dos insetos .

Cores em brasa se retorcem na pele da criação, chamas que iluminam e devoram, um laranja-gume, um vermelho-escombro, entre a beleza e a fúria. A natureza, que constrói para coabitar, enfrenta o martelo febril do progresso, que ergue torres e muros sem perguntar ao solo se quer ser moldado. Há um canto de marimbondos, quase inaudível, clamando respeito pela arquitetura dos séculos, nas paredes de fibra e silêncio, onde nada se perde, onde tudo se ergue pelo lume da necessidade. Um espelho íntimo nos observa da obra; existe culpa em nosso fascínio, pois somos ferida e cura, somos a mão que acaricia e a mesma que fere a terra. Em cada camada sintética, profana-se o que era puro – e nem o fogo das cores sabe se queima ou celebra. Fica o questionamento – inflamado em silêncio –: poderíamos construir sem invadir o sagrado? ou seremos sempre cativos da ânsia de dominar o que floresce, livre, no tempo da vida? Assim, a casa de marimbondo, emoldurada por espumas humanas, convida ao espanto e à fé, à contemplação e ao protesto, ao passo hesitante entre a mão que cria e a mão que destrói. E nós, que habitamos o limite entre o fogo e o pó, talvez reencontremos na chama turva da tinta a partícula divina que outrora foi nossa.

Casa de Marimbondo

VENDIDO

,

Ergue-se um Pinóquio social, nariz de ilusão e madeira retorcida , brota na face de cada um que rasga a verdade como um pano velho, desfiando segredos sem pudor. Só a lâmina nua da desconfiança corta o coração quando o punhal é empunhado por quem mais amamos.

É a dança trágica do inconsciente, ecos de desejos enterrados na linguagem e o martelo da verdade : onde mora o seu valor?

Na noite sem lua, um grande amor se despe na cama e, na escuridão, divide-se em sussurros com um fantasma do passado.

Câmeras, como olhos do superego vigilante, violam a intimidade na ânsia de encontrar no outro uma falha – esquecem que a falha é a semente que carregamos em nossa pele mortal.

Enquanto isso, os narizes crescem como troncos retorcidos, perfurando corações desprotegidos.

“Desconfie dos ídolos, até os mais próximos”

Eis o juiz do mundo: desossado de poesia, lambuza-se na ânsia da conquista da caverna já desvendada . A multidão de almas anãs, brotos de madeira carcomida, roem nossa esperança, sugam nosso riso, brincam com nosso afeto. Mas no fundo, são apenas estacas de mentira cravadas no palco da existência, onde tropeçamos e nos erguemos sempre à beira do abismo.No fim, o que resta? Cospem em nossa alma como cães sem dono, famintos de ego e miséria.Deixa, pois, que o martelo despedace esses ídolos podres. Que a arte ilumine as fissuras do desejo.

E que o Pinóquio social, em seu show de narizes crescentes, mostre-nos a tragédia que é mentir para quem sempre foi a mão estendida no escuro. Seja o seu próprio escultor, talhando no silêncio a verdade que o mundo insiste em violar. Despeça-se das marionetes corrompidas, pois não valem o instante que se gasta em doação. E renasça, feito fogo, num novo poema de vida.

Pinóquio Social:

O Martelo e o Inconsciente

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO

VENDIDO