apresenta:

A Residência de Desobediência Criativa é um laboratório intensivo de imersão artística voltado para atores, diretores, roteiristas e artistas que desejam desenvolver uma linguagem autoral no cinema.

Idealizada pelo cineasta Caio Sóh, criador do movimento Cinema Bruto, a residência propõe uma imersão sensorial e poética em todas as etapas da criação cinematográfica; da ideia à imagem, da escrita ao corpo, da escuta ao gesto.

Durante 5 meses, os participantes vivenciarão encontros presenciais, ensaios, improvisações, exercícios de linguagem, estudos de dramaturgia, direção, atuação, câmera, som e construção de roteiros autorais, sempre com foco na liberdade estética e na autonomia criativa do artista.

Ao final do processo, será realizado um filme coletivo, concebido e produzido pelos próprios participantes, orientados por Caio Sóh.

Esse filme será exibido em uma sessão especial em um cinema profissional, com estreia aberta ao público.

Mais do que um curso, a residência é um espaço de pesquisa, risco e criação para artistas que desejam romper com padrões e aprofundar seu olhar sensível sobre o cinema e sobre si.

PERÍODO:

29 julho a 27 de novembro de 2025

DURAÇÃO:

4 meses de imersão sensorial, artística e cinematográfica

ENCONTROS PRESENCIAIS:

Turma

· Terças e Quintas, das 19h30 às 22h

Local - Atelie Caio Soh

Rua Cônego Eugênio Leite, 158

Bairro: Jardins - Sp

VAGAS:

12 artistas por turma serão selecionados para essa primeira travessia

Valor da Residência

Dois encontros semanais

🕢 Terças e quintas, das 19h30 às 22h00

Valor mensal: R$ 1.200

O QUE É A RESIDÊNCIA?

(por Caio Sóh)

Não é um curso.
É uma fenda. Um corte. Um lugar sem moldura.
É o espaço entre o gesto e o grito. Entre o erro e a criação.

A Residência Desobediência Criativa é um chamado para quem não suporta mais obedecer à forma. Para quem carrega uma linguagem dentro do corpo, mas ainda não sabe como parir.

Aqui, a câmera não é técnica, é extensão do nervo.
O roteiro não nasce na cabeça, nasce no estômago.
A atuação não obedece à intenção, ela encarna.

Não buscamos resultado. Buscamos origem.
Estado de presença. Descontrole. O instante em que o artista se torna obra, e o filme se torna um gesto irrepetível.

Durante cinco meses, não vamos nos provocar: por que você precisa filmar?

Essa residência não é para quem quer aprender cinema. É para quem quer inventar um jeito novo de existir dentro dele. A partir do corpo. Da matéria. Do gesto. Da urgência.

O artista que obedece, repete.
O artista que escuta, revela.
Seja revelação.

PARA QUEM É:

Voltada para artistas da dramaturgia, cinema, teatro e artes vivas que desejam reinventar a forma de criar.
Para quem quer dirigir, atuar, escrever e filmar com o próprio gesto, sem repetir, sem obedecer, sem pedir permissão.

É para quem cria com o corpo. Com a escuta. Com a pele.

INSCRIÇÃO P/ SELEÇÃO:

mande seu material

cinemabruto@gmail.com

MÓDULOS DA RESIDÊNCIA:

MÊS 1 :

ESCAVAR O CORPO, ESCUTAR O PULSO

A PRESENÇA COMO ROTEIRO. O CORPO COMO LENTE.

· Laboratórios de presença bruta: corpo, escuta, respiração, impulso.

· Escrita intuitiva e fragmentária: imagens que nascem antes da lógica.

· Filmagem desobediente: câmera sem tripé, sem plano, guiada pelo desejo.

· Introdução ao gesto como linguagem.

· Estudo da cor como emoção.

· A atuação como estado: o ator como antena, e não executor de texto.

· O “roteiro-orgânico”: composição a partir do corpo, do espaço e do tempo real.

A câmera é um nervo. O roteiro é um sopro.

MÊS2:

DESMONTAR A FORMA

INVENTAR A FALHA

NARRAR COM O ERRO. CONSTRUIR A IDEIA COMO COLAGEM DE SENTIDOS.

· Desconstrução da dramaturgia tradicional: anti-arco, anti-clímax, anti-personagem.

· Estudos desobedientes de estrutura: como pensar narrativa fora da curva?

· Improvisação como linguagem: criar sem saber aonde se vai.

· Atuação como presença falha: errar em cena como gesto de verdade.

· O som como personagem: ruído, respiração, silêncio, sobreposição.

· Cineanálise de Minutos Atrás: o tempo da deriva, a poesia do deslocado.

· Criação de cenas em grupo: sem lógica, com pulsação.

O erro não é falha. É estética bruta. É a assinatura do real.

MÊS 3:

SONHAR COM OS OLHOS ABERTOS

O SÍMBOLO COMO ROTEIRO. O OLHAR COMO FICÇÃO.

· Laboratório de mitologias pessoais: signos recorrentes, sonhos, fantasmas.

· Filmagem sensorial: transformar o invisível em matéria de cena.

· Estudo da cor como signo emocional: tons que sangram, que curam, que desorientam.

· A câmera como extensão do desejo: mover o plano pelo afeto.

· Atuação arquetípica: gestos simbólicos, repetições, transes, rito.

· Cineanálise de Por Trás do Céu: quando o real é atravessado por magia íntima.

· Escrita de cenas rituais, como pequenos mitos pessoais.

Filmar é fazer poesia com o que assombra.

MÊS4:

A VERDADE É MATÉRIA CRUA

O REAL COMO CONFRONTO. O OLHAR COMO RISCO.

· Início das filmagens do filme coletivo: cada artista escreve, dirige e atua.

· Ensaio da exposição: gravar a própria intimidade, falas internas, contradições.

· Estudo da ética da imagem: quem você filma, por que, e como isso reverbera?

· A montagem como autópsia poética: desmontar para revelar.

· A câmera em campo real: locações vivas, interferências, improviso.

· Cineanálise de Canastra Suja: o desconforto como matéria estética.

· Experimentos com materiais crus: vidro, sujeira, comida, suor.

A arte não limpa. Ela revela a mancha.

MÊS5:

O GRITO COMO AUTORIA

A LINGUAGEM COMO LIBERDADE. A OBRA COMO REFLEXO DO OLHAR.

· Montagem final do filme coletivo: um corpo feito de múltiplos gestos.

· Escrita de um manifesto individual: “Como eu inventei minha linguagem?”

· Concepção de projeto autoral: curta, performance, carta audiovisual, filme ritual.

· Direção a partir do desejo: plano como impulso, montagem como respiração.

· Cineanálise de Hashtag: o colapso da identidade e a reinvenção do eu.

· Exibição interna e partilha da travessia.

· Mostra pública bruta: cinema como grito íntimo e coletivo.

Ser artista é saber quem se é para então criar com verdade e nunca mais pedir permissão.

FILME COLETIVO

Durante toda a residência, os artistas irão criar um filme coletivo.

Uma obra feita a partir da junção de múltiplos olhares, desejos e contradições.

· Cada artista será roteirista, diretor e ator.

· Cada fragmento será criado a partir do impulso de um corpo presente.

A Residência Desobediência Criativa não termina com um certificado.
Termina com um grito.
Será uma consequência.
Do gesto. Do erro. Da presença. Do processo.

Cada encontro, cada cena improvisada, cada respiração capturada, cada silêncio que virou roteiro;
tudo vai se transformar em uma obra viva, criada a muitas mãos e muitos olhos, sob o impulso bruto da liberdade criativa.

Fôlego


PRIMEIRO ENCONTRO – A FILOSOFIA DA DESOBEDIÊNCIA CRIATIVA


No princípio, há o escuro. Um silêncio anterior ao pensamento, ao nome, à imagem. É nesse espaço vazio, esse não-lugar do real antes do real, que nasce o primeiro gesto da desobediência criativa. O artista não chega para aprender fórmulas; ele chega para desaprender a lógica que o aprisiona. Não é o ofício que o espera, é o abismo. E do abismo, se ele for artista, ele retorna com uma faísca entre os dentes.

O primeiro encontro da Residência de Cinema Bruto, Desobediência Criativa , é uma travessia de retorno à origem. O artista chega carregado de vozes, estilos, referências e certezas. Mas é convidado a parar. Respirar. Escutar. O nome desse respiro é FÔLEGO.

A desobediência criativa começa quando o artista decide desacelerar o tempo. Quando nega a pressa do mercado, a ditadura da técnica, a estética da repetição. O primeiro ato rebelde é ouvir a si mesmo em meio ao ruído. É essa escuta, corporal, simbólica, sensível, que fundamenta o FÔLEGO.

Nessa escuta, o corpo é restaurado como centro criativo. O artista não é apenas mente; é pele, músculo, memória, trauma, sonho, erro. A filosofia do FÔLEGO rompe com a cisão cartesiana entre razão e sensibilidade. Ela propõe uma fusão entre presença e criação. Só pode criar quem está. Só está quem respira.

No primeiro encontro, cada participante será convocado a escrever sem pensar, olhar sem buscar sentido, movimentar-se sem coreografia. Atos de desconstrução. Exercícios para perder o controle e recuperar o gesto. O gesto como pensamento não verbal. O gesto como origem da linguagem. A escrita do corpo precede qualquer narrativa. Antes da palavra, o impulso.

Essa filosofia escava o chão comum do humano antes da teoria. E o humano, aqui, é carne e sonho. O humano é artista quando não imita o mundo, mas quando escava dele a sua própria vertigem.

A residência propõe o artista como um ser órfico: aquele que retorna do submundo do próprio inconsciente trazendo imagens. Mas não imagens de Instagram, imagens brutas, tortas, fragmentadas, que ainda não foram nomeadas. A primeira prática não é filmar, é sentir. Não é atuar, é ser habitado.

O olhar do artista é colocado à prova. Que mundo ele enxerga quando fecha os olhos? Que infância ressoa em seus ossos? Que silêncio ainda o assusta? A primeira aula não começa com uma fala, mas com uma suspensão. O tempo é suspenso para que outra percepção possa emergir.

Ali se inicia o manifesto vivo. Cada um é convidado a escrever sua primeira regra de desobediência. Uma regra pessoal, intransferível. O que precisa ser desaprendido para que se possa, enfim, criar? É a pergunta que atravessa cada corpo presente.

No fim das três horas do primeiro encontro, não haverá resultados. Mas haverá uma rachadura. Uma pequena fresta. Um novo ângulo do real. O artista que saiu de casa não é mais o mesmo. Ele não volta com certezas , volta com perguntas.

E é com perguntas que o cinema bruto começa. Não com câmeras, nem com roteiros. Mas com a coragem de não saber. O artista bruto não quer ser mestre, quer ser matéria em ebulição. A primeira aula é esse choque térmico entre a razão e o instinto. Entre o desejo de forma e a potência do informe.

A arte que interessa a esse movimento não nasce pronta. Ela respira. Ela sangra. Ela muda de direção no meio da cena. Ela esquece o roteiro. Ela escuta o vento. Ela desobedece até a si mesma.

Esse é o ponto zero da residência. Um ponto de partida que já é queda. E que, por isso mesmo, é voo.

Seja bem-vindo à primeira vértebra do manifesto: o FÔLEGO.